abr 09
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 A grande mentira por trás dos alinhadores

Sabem aqueles filmes de ação em que as máquinas dominam o mundo para eliminar o vírus que destrói a Terra, que somos nós? Pois é, por enquanto é apenas uma ficção cientifica mesmo. O mundo vive em constante evolução e estudos recentes mostram que a pandemia do COVID acelerou a evolução tecnológica em anos. Na odontologia não seria diferente, apesar de ser recente o advento da tecnologia digital no cotidiano do dentista e de haver ainda grande relutância e limitações no seu uso, a evolução é um fato e não temos como fugir. Mas as máquinas, ainda, não substituíram nossa capacidade de raciocínio, ufa!

Já não há mais dúvidas de que para se conduzir adequadamente um tratamento ortodôntico é necessário dois passos fundamentais: diagnóstico e planejamento.1 É ousado dizer que um tratamento ortodôntico com alinhadores pode ter efeitos faciais, porém, o nome do jogo continua sendo DIAGNÓSTICO, isso quer dizer que o ortodontista que está avaliando o caso ainda precisa olhar para o paciente, analisar as característica clinicas, radiográficas e até mesmo a queixa do paciente para conseguir chegar em um plano de tratamento que condiz com o que o paciente procura. 

Sendo um pouco mais específico, vamos levar em consideração um paciente com Classe II bilateral, porém, com o uma acentuada vestibularização dos incisivos superiores, dificultando o selamento labial e criando uma elevação do lábio superior que é, por acaso, a queixa do paciente. O típico paciente padrão Fred Mercury. Nestes casos, o indicado está trabalhar no arco superior para melhorar a protrusão e garantir uma melhora estética e oclusal para o paciente. Já em um Classe II em que você olha para o paciente e analisa que o lábio superior apresenta uma adequada projeção, na telerradiografia observa-se uma boa posição maxilar, porém, temos uma linha mentopescoço reduzida, o lábio inferior pobre, sem projeção, uma má oclusão, que conforme a descrição, tem o erro na região mandibular. Neste segundo exemplo, o foco do plano de tratamento deve ser no arco inferior, com vestibularização dos incisivos, mesialização de molar inferior. Mas esses são exemplos de raciocínios que temos que fazer todos os dias quando recebemos um paciente novo e, acreditem ou não, não sou uma máquina.

De forma inovadora, a odontologia tem evoluído para a era digital, com softwares de alta precisão, utilização de sistemas de inteligência artificial e diversificação de ferramentas, sendo possível produzir aparelhos previsíveis, confortáveis e estéticos, como os alinhadores invisíveis. 2 Mas a evolução é um “processo gradativo e progressivo de transformação, de mudança de estado ou condição” (Oxford Languages) ou seja, apesar de ser uma transformação, não necessariamente substitui os métodos utilizados anteriormente, tendo, também, limitações e desvantagens em sua indicação clínica.

Portanto caro leitor, venho através deste texto confortá-lo, pois seu serviço está protegido, pelo menos por enquanto. Os alinhadores são sim uma evolução, os novos sistemas são uma vantagem para nosso cotidiano clínico e eles são capazes de fazer análises em décimos de milímetros, nos oferecendo uma maior precisão em nosso trabalho, mas de forma alguma são capazes de substituir nossa capacidade de conversar, entender, analisar, avaliar e diagnosticar, é única do ser humano, valorize-a.

1. CAPELOZZA FILHO L. Diagnóstico em Ortodontia. Maringá: Dental Press Editora2004.
2. Willems G, Carels C. Developments in fixed orthodontic appliances. Nederlands tijdschrift voor tandheelkunde. 2000;107(4):155-159.