ago 30
0 Comments

Considero a ortodontia como uma das disciplinas que mais necessitam estudo, uma vez que o próprio conselho de odontologia estipula um maior número de horas para se tornar especialista nesta área. A ortodontia é desafiadora, pois pode ser realizada a partir dos 5 anos de idade, em crianças, o que é chamado de ortodontia interceptiva. Durante muitos anos os ortodontistas que estudam essa área e até mesmo a ortodontia corretiva em adultos buscam uma forma de fugir da colaboração do paciente, trocamos um bionator por um Herbst, um elástico por um APM, chegaram a soldar um gancho na placa labioativa e amarrá-la para impedir a retirada do aparelho pelo paciente.  

Apesar de promissores, os alinhadores estéticos possuem a grande desvantagem de ser um aparelho removível, e que, por isso, necessita da colaboração do paciente, fazendo uso integral, por volta de 22 horas por dia, durante meses de tratamento.1,2 Diversos autores colocam a colaboração como a principal causa da ineficiência dos alinhadores que pode variar de 38,9 a 51,3% em algumas má oclusões.3,4 Outro fator interessante é que os estudos mostram que os pacientes que usam alinhadores reportam sentir um nível menor de dor e desconforto 5,6, porém, não há um comprovações de que esse tipo de tratamento possui um tempo menor do que o fixo convencional.7,8 Ou seja, os pacientes sentem menos dor, menos desconforto, utilizando um aparelho estético e que não afeta o cotidiano de trabalho e lazer, porém, ainda sim há dor e precisamos que o paciente utilize o aparelho.

Agora colocando todas essas informações na ponta do lápis e pensando como é ser o paciente que está passando por este tratamento, não deve ser fácil. No aparelho fixo convencional o paciente não tem a opção de remover as peças metálicas e tirar a dor, porém, nos alinhadores, basta ele não usar o alinhador, fica aqui a reflexão. E essa informação não é atual, um estudo clínico raiz, um dos primeiros feitos com alinhadores produzidos através da tecnologia CAD-CAM, analisou algo parecido e concluiu que pacientes que apresentam uma má oclusão muito severa e que requer um tratamento longo com muitos alinhadores possuem maior chances de abandonar o tratamento antes da sua finalização.9 Em minha humilde opinião, penso que na correria do dia a dia, me recordar que devo cuidar do meu aparelho, tirar na hora das refeições, higienizar os dentes e o aparelho, levar a caixinha para guarda-lo, e assim continua, seguindo esse fluxo todos os dias durante meses, esse é o desafio. O paciente precisa ser motivado, estar ciente da necessidade de colaboração e, indo além, o tempo de tratamento tem que condizer com aquilo que o paciente procura, o que quer dizer que se o paciente quer corrigir a altura entre os centrais e laterais, não adianta aumentar o tratamento em 1 ano para corrigir ¼ de Classe II. Escute o seu paciente, entenda sua queixa e explique as opções, a decisão deve ser feita em conjunto, dentista e paciente.

1. Brandão M, Pinho HS, Urias D. Clinical and quantitative assessment of headgear compliance: a pilot study. American journal of orthodontics and dentofacial orthopedics. 2006;129(2):239-244.

2. Lee S-J, Ahn S-J, Kim T-W. Patient compliance and locus of control in orthodontic treatment: a prospective study. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics. 2008;133(3):354-358.

3. Krieger E, Seiferth J, Marinello I, et al. Invisalign® treatment in the anterior region. Journal of Orofacial Orthopedics. 2012;73(5):365-376.

4. Haouili N, Kravitz ND, Vaid NR, Ferguson DJ, Makki L. Has Invisalign improved? A prospective follow-up study on the efficacy of tooth movement with Invisalign. American Journal of Orthodontics Dentofacial Orthopedics. 2020;158(3):420-425.

5. Silva Filho O, Okada H, Aiello C. Ortodontia interceptiva: correção precoce de irregularidades na região ântero-superior. Ortodontia. 1998;31(2):113-121.

6. Miller KB. A comparison of treatment impacts between invisalign and fixed appliance therapy during the first seven days of treatment, University of Florida; 2005.

7. Buschang PH, Shaw SG, Ross M, Crosby D, Campbell PM. Comparative time efficiency of aligner therapy and conventional edgewise braces. The Angle Orthodontist. 2013;84(3):391-396.

8. Zheng M, Liu R, Ni Z, Yu Z. Efficiency, effectiveness and treatment stability of clear aligners: A systematic review and meta‐analysis. Orthodontics & craniofacial research. 2017;20(3):127-133.

9. Bollen A-M, Huang G, King G, Hujoel P, Ma T. Activation time and material stiffness of sequential removable orthodontic appliances. Part 1: ability to complete treatment. American Journal of Orthodontics Dentofacial Orthopedics. 2003;124(5):496-501.